a) Sextilhas: Joseph M. Luyten, em O que é literatura de cordel, informa que 80% dos cordéis vêm em forma de sextilha, assim chamada a estrofe ou estância de seis versos. Cada linha dessas estrofes geralmente possuem sete sílabas métricas (chamada de redondilha maior), com rima nos versos pares (segundo, quarto e sexto versos). Exemplo:
Quem não levar um cordel
De jeito nenhum me ataca,
Também não vou condenar
Sua teoria fraca,
Mas vai ficar com o rabo
Igualmente o da macaca.
De jeito nenhum me ataca,
Também não vou condenar
Sua teoria fraca,
Mas vai ficar com o rabo
Igualmente o da macaca.
(Cordel “História de Jesus, o Ferreiro e a Macaca”, de José Costa Leite).
Apesar do predomínio das sextilhas, outros tipos de estrofes também podem ser observadas nos cordéis, merecendo destaque as seguintes:
b) Quadra: Estrofe de quatro versos. Foi bastante utilizada nos inícios do cordel, tendo seu uso decaído com o tempo. Nas quadras, há a obrigatoriedade da rima em pelo menos dois versos (o segundo com o quarto), podendo o cordelista optar pela rima em todos os versos (esquema ABAB ou ABBA). Exemplo:
A Luíza do Zé Braz,
Neta do Zé do Mogêro,
Era a moça mais bunita [sic]
Lá da Serra do Perêro.
(Cordel “A Estátua do Jorge”, de Alberto Porfírio).
c) Setilha: é assim denominada a estrofe de sete versos. Caso o poeta decida rimar todos os versos, em geral o antepenúltimo e a penúltimo irão rimar entre si (Esquema ABABAAB). Exemplo:
Lá na Mancha, Espanha, havia
Um tal Quesada ou Quixano,
Que de noite e de dia,
E também ano após ano,
Compulsivamente lia
Obras de cavalaria
Vertidas pro castelhano.
(Cordel “Dom Quixote de la Mancha”, de Stélio Torquato Lima).
d) Oitava: Estrofe composta de oito versos. Na variante denominada de “oitavas-a-quadrão”, o esquema rímico é o AAABBCCB, encerrando-se a estrofe necessariamente com a expressão “nos oito pés a quadrão”. Exemplo:
Eu canto com Zé Limeira
Rei dos vates do Teixeira
Nesta noite prazenteira
Da lua sob o clarão
Sentindo no coração
A alegria deste canto *
Por isso é que eu canto tanto *
Nos oito pés a quadrão.
(Cantoria entre José Gonçalves e Zé Limeira)
e) Décima: Estrofe de dez versos, cada um deles apresentando dez ou sete sílabas métricas. O esquema rímico mais empregado é o ABBAACCDDC. Na cantoria, é bastante empregada quando é lançado um mote para ser desenvolvido (glosado) pelo cantador. Exemplo:
MOTE: O regime comunista / é contra a religião
GLOSA
Nas folhas de uma revista
li um conselho exemplar
que ninguém deve aceitar
o regime comunista
quem se assinar nesta lista
ficará sem proteção,
pois a negra escravidão
grita ali em vozes altas
e além de outras grandes faltas
é contra a religião!
(Poema “Glosas sobre o Comunismo”, de Patativa do Assaré).
f) Galope à beira-mar: Estrofe de 10 versos, cada um deles apresentando 11 sílbas métricas (hendecassílabos), terminando sempre com a expressão “galope à beira-mar” ou, simplesmente, com a palavra "mar". É típico das cantorias. O esquema rímico é o mesmo da décima clássica: ABBAACCDDC. Exemplo:
Então, meia-noite, anjos emissários
Em conta de sete, de aura azulada,
Falaram pra ele, punhando as espadas:
És tu o escolhido, bispo do rosário.
Terás de fazer o teu inventário
E reconstruir o universo sem par
Pra diante de Deus tu te apresentar
Vestido em teu manto vermelho-centelha,
Entrou no hospício da praia vermelha
Cantando galope na beira do mar.
(Música “Galope Beira-mar para Bispo do Rosário”, de Wilson Freire e Antonio José Madureira)
a
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