Anteontem, minha gente
Fui juiz numa função
De violeiros do Nordeste
Cantando em competição.
Vi cantar Dimas Batista,
Otacílio, seu irmão.
Ouvi um tal de Ferreira,
Ouvi um tal de João.
Um a quem faltava um braço,
Tocava cuma só mão;
Mas, como ele mesmo disse,
Cantando com perfeição,
Pra cantar afinado,
Pra cantar com paixão,
A força não está no braço,
Ela está no coração.
Ou puxando uma sextilha
Ou uma oitava em quadrão.
Quer a rima fosse em inha,
Quer a rima fosse em ão,
Caíam rimas do céu,
Saltavam rimas do chão!
Tudo muito bem medido
No galope do sertão
A Eneida estava boba,
O Cavalcante, bobão,
O Lúcio, o Renato Almeida;
Enfim toda a comissão.
Saí dali convencido
Que não sou poeta, não;
Que poeta é quem inventa
Em boa improvisação,
Como faz Dimas Batista
E Otacílio, seu irmão;
Como faz qualquer violeiro
Bom cantador do sertão,
A todos os quais, humilde,
Mando a minha saudação!
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